Em tempos que já lá vão
O fado cá era assim
Desafiava um amigo
Para cantar ao pé de mim
Eu andava lá longe
E ouvi o teu pedido
Por isso vim a correr
Para vir cantar contigo
Para vires cantar comigo
Amigo do coração
Dá-me cá um abraço
E um aperto de mão
Agora que te abracei
E apertei a tua mão
Continua a desgarrada
Que é a tua obrigação
Parece que vens com pressa
Andas mal habituado
Tu andas sempre a correr
Tens aspecto de cansado
Muda mas é de conversa
Já me estás a chatear
Não vim para ouvir sermões
Eu vim aqui para cantar
Estás a ficar nervoso
E já não tens pedalada
Para inventar a cantiga
Nesta nossa desgarrada
Estás-me a provocar
O teu corpo está a pedir
Ainda te vais engasgar
Eu vou-me ficar a rir
Vieste aqui para cantar
Mas trazes pedras na mão
Vens armado em cordeiro
Mas o que tu és é leão
Estás a falar de feras
Tu és um grande matreiro
Se não te portas como um homem
Levas um pontapé no traseiro
Já está a cheirar mal
Essa tua cantoria
É melhor tu ires pregar
Para outra Freguesia
Então vou-me despedir
Vou partir eu vou-me embora
Mas espero cá voltar
Numa outra qualquer hora
Volta que és bem recebido
Te digo com alegria
Também de ti me despeço
Adeus até qualquer dia
Os dois aqui moramos
Neste nosso lindo cantinho
Gostamos da nossa terra
Que se chama o Goulinho
António Assunção
Fica aqui uma recordação de como se cantava o fado serrano à desgarrada nos bailes no meu Goulinho.